terça-feira, 13 de outubro de 2015

PRESENCIANDO A AUSÊNCIA

      Avenida Paulista.  Uma tarde agradável na rua. Alguns à passeio, todos a trabalho. A calçada tornava-se uma mera passagem. De um lado ao outro, mas ninguém ali. Convidávamos os transeuntes a adentrar na barraca, escutar um pouco do que fora contado pelas mulheres sem teto e pedimos a eles que escrevessem um pouco das impressões que tiveram na experiência. Do lado de fora, do desinteresse ao interesse, da falta de curiosidade e mal educação dos mais velhos e apressados ao olhar e pensamento mais intrigantes dos jovens, uma experiência única e reflexiva. Um pouco dos arquétipos que percebi:
     - Engravatados: Com pressa, mal percebiam nossa existência. Indo ao trabalho, sem tempo. Voltando, cansados. Imersos numa bolha inatingível. O mais próximo que consegui de um deles foi: “tô com pressa. Na volta, quem sabe?”. Não voltaram. Em horário de almoço, de jantar ou de trabalho, quais sejam, faziam parte de uma paisagem agitada, mas sem vida. Um movimento reiterado e incessante como um maquinário prestes a fundir. Qualquer um que pudesse parar, de certa forma, romperia com o movimento e empacaria a velocidade da vida. Não dar atenção é parte do cotidiano, imutável em sua volatilidade.
       - As duplas: Um puxando o outro para dentro. O outro puxando um para fora. Ficavam no meio do caminho. Em pé, com medo de entrarem na barraca, as duplas oscilavam entre curiosidade e desânimo. Aos poucos se entregavam; entravam. Perdiam um pouco do seu tempo e ganhavam um tanto de sentimentos inexplicáveis. Da quase passagem desapercebidas à saídas, conversas e questionamentos interessantes. A vontade de saber o que sucederia do projeto.  “Mas é só isso?”; “O que vão fazer depois?”; Vocês ajudam as moradoras?” – Uma resposta rápida – o reconhecimento faz parte essencial à inclusão. Das conversas com as moradoras, “Só de vocês pararem aqui e conversarem, já nos sentimos parte da sociedade. Só isso já ajuda”. Aos que nos perguntavam, buscavamos respostar rápidas e prontas para assuntos que, de fato, merecem a maior atenção possível. No mínimo, reflexões.
      - Jovens: Em sua maioria curiosos, buscavam ao máximo se entregar ao projeto. Dentro da barraca, os que mais ficavam. Sentavam por mais de cinco minutos, escutavam cautelosamente e escreviam os depoimentos mais interessantes. Refletiam o desejo de mudança, e às vezes, realizavam uma impotência aparente: “triste realidade tão distante da nossa”. Realidade essa que é tão próxima. Barracas e barracas que perpassamos ao longo do dia e de nada fazemos. Das vivências em projetos sociais e esperança. Uma geração ávida por justiça. Os filhos da geração perdida das ditadura querem igualdade? Mudanças são feitas no dia a dia. Inconformados? Me parece que sim.

CADU NETO















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