segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

PRESENTES - A ENTREGA


     Queridos, muito obrigada pelos presentes. Pude fazer uns Kits bem bacanas. Já distribui tudo que recebi para: Merlaine, Bianca, Samira, Ana Maria, Janaina, Larissa, Deolinda, Jacqueline, Joana, Eva, Michele, Rosimeire, Yasmim, Dirce, Carol, Gabriela, Christiane e algumas outras que por diferentes motivos não gostam de dizer seus nomes. 
   Reencontrar algumas moradoras e ser recebida com carinho é pra lá de especial. Foi mesmo muito lindo.
   Para terminar ficam as fotografias e um vídeo com três histórias diferentes. Como disse a Larissa: “Mais um ano se acabando. Vai ver o ano que vem, né? A vida não para. “








E A VIDA QUE NÃO PARA



sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

AINDA NÃO CHEGOU O NATAL

    Eram três que ficaram sem nome. Mais dois. Três crianças e dois adultos. O dela era Gabriela. Embaixo da ponte tinha árvore de Natal, fogareiro, garrafa de água. Tinha colchão também, carrocinha, carrinho de bebê e boneca Suzi. Tinha o bebê. Panela cozinhando arroz. Paraisópolis era a casa, o trabalho a ponte. A pequena quem me contou e a vó tentou jogar palavra por cima, tapar a fala, mas a menina já tinha começado. Os olhares se engancharam. - Tia, tô na escola. - Que escola, menina? - Ele vai pra creche. - Que creche, menina? Umas palavras que não  grudavam nas outras. A vó era brava. - Pro próximo ano, perto de casa, Gabriela falou. A menina escondeu o olhar por trás das pálpebras. - Há quanto tempo tamo aqui? O irmãozinho via as fotos no meu celular, apertava o botão e subia no meu colo. Movimentos e olhares. Mãe, vó, ela e eu. O que era tempo pra ela? - Faz tempo, ela mesma respondia. Eu repetia a pergunta da creche já sabendo que ali tinha um furo que não era o que elas tentavam tapar. A creche era do lado da casa, a escola também. Existem tantos tipos de furo, meu Deus! A pobreza escondendo-se e disfarçando-se de pobreza maior - Será que dá tempo do senhor tapar? É tanto pedido perto do Natal!
    Paraisópolis era a casa, o bairro, o automóvel na porta, a geladeira repleta, a luz, a água, as roupas dentro do armário. Paraisópolis era a viagem de férias, o fim de semana no cinema, o travesseiro, o cobertor. Paraisópolis era muito. A conta no banco, a poupança, a certeza de um 2016 feliz. Era o Rivrotil, o Dormonid, e o Donaren. A menina nem sabia. Tentavam esconder seus tesouros debaixo do colchão furado.
    Eles na curva, em cima o viaduto. Os filhos vinham trabalhar com a mãe, a avó e o avô, que àquela hora estava deitado no colchão, só observava. A carroça em frente não era veículo de trabalho, era armário. Será por que não poderiam ficar os pequenos em casa com a vó enquanto a mãe faxinava, estudava? Vale brincar de sonhar? O terceiro filho ainda mamava, um único mês ele tinha. – Eu queria um barraco, esse era o pedido da mãe. Paraisópolis não cabia ali. Era muito. Uma escola, a creche que estava por vir. O que eu contaria se soubesse que eles já tinham um barraco? Por ali uma garrafa de água, o mamá debaixo da ponte, uma panela de arroz, um carrinho de bebê, três colchões. Tinha rato, frio, chuva de vento. Tinha três bebês, dois deles que já aprenderam a falar, mas que não falassem de um jeito a verdade. Os ruídos dos carros, as garrafas arremessadas e os drogados asseguravam o trabalho dos seis. O que pensaria eu se soubesse que não eram de um todo moradoras de rua? Gabriela perguntava, mas não dizia. Os olhos de Gabriela.
    Faltava coisa. Coisa que é gente. Os três pais: o da pensão que era pouca, pai do menino. O que abandonou a filha. E o do bebê, que morreu atropelado. Sobrava uma vó e um vô no colchão. Um corpo com preguiça com aquele cansaço que se estende. Sobrava filho: um mês, três e cinco anos, essa era a idade. Sobrava idade: Sessenta e sessenta e três eram números dos pais.  E tinha ela, a Gabriela, de vinte e dois.
   A vó me falou que a comida acabou e que tava todo mundo com fome. - O super-mercado é ali do outro lado, depois do viaduto, uma rua ali no meio. Avenida dos Carinás, entrei. Arroz, feijão, carne, farinha, banana, suco, verdura. Eram seis, e aquilo daria para quantas refeições? Bombons e salgadinhos ajudavam o gosto bom na boca das crianças. Eram mais quatro os homens, moradores de rua na frente do super-mercado. Voltei. Dois dias com refeição? O estômago continuaria fazendo parte do corpo.
   De dentro de um carro alguém estendeu o braço e doou quatro pacotes de bolachas. Era uma mulher com olhar assustado. Abriu uma partezinha da janela. De longe o espaço não era neutro. De perto era a Gabriela, seus três filhos e os avôs.






GABRIELA - TRÊS BOCAS

https://youtu.be/umafWckeXcY

PESSOAS - COISAS E COISAS


















Baixo do Viaduto - Ibirapuera
  

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

O AMOR


O amor é pedra,
é sono.
É casa fugida. É cacunda. É tiro. É morte planejada.
É sem colo.

É  soro positivo.
É  um dia
e mais outro. 
É flanela no vidro.
É carro riscado.

O amor é farinha.
É vigília em viaduto.
É um troço.
É pacote de erva. É cheiro de álcool.
É a primeira esquina.
É barriga vazia.

É filho abortado
no saco do lixo.
O amor é sem dó.

É um dia e mais outro.
É batida no peito.
Uma,
duas,
até arrebentar.


O amor é pedra, é sono. É casa fugida. É cacunda. É tiro. É morte planejada. É sem colo. É soro positivo. É um dia e mais outro. É flanela no vidro. É carro riscado. O amor é farinha. É vigília em viaduto. É um troço. É pacote de erva. É cheiro de álcool. É a primeira esquina. É barriga vazia. É filho abortado no saco do lixo. O amor é sem dó. É um dia e mais outro. É batida no peito. Uma, duas, até arrebentar.


MINHA RELIGIÃO É DEUS


KEISE


A GENTE SE AMA


R. CUBATÃO

KEISE CARLA DA SILVA





Caixa Postal Para Doação

Beatriz Grimaldi
72398
São Paulo- SP
CEP: 01427-970
(alimentos não perecíveis, roupas, sapatos, bijoux, itens de higiene, livros,etc...)

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

CAIXA POSTAL



Vou aproveitar o post desta semana para dar início a mais um movimento. Por estar em contato direto com as moradoras de rua e presenciar necessidades de todas as espécies, decidi ter uma Caixa Postal para receber todo tipo de doação:

Beatriz Grimaldi
72398
São Paulo- SP
CEP: 01427-970

Como estamos perto do Natal, penso que independente das necessidades básicas as doações possam ser de categorias diversas. Algo que você daria para uma pessoa querida. Converso com mulheres de todas as idades, e, por isso, tudo é muito bem vindo. O que for fácil pra você.
 Não podemos perder de vista algo muito simples que constato a cada encontro. Delicadezas também fazem parte desse universo feminino.
O pedido que faço é para todos.Você só terá que ir a uma agência de correio.
Quem preferir doar uma quantia em dinheiro, para que eu compre o presente, acesse meu Facebook: Beatriz Grimaldi,  e deixe uma mensagem inbox.


SUGESTÕES :
Havaianas (35 à 38)
Sapatos/Sandálias (35 à 38)
Livros, cadernos e canetas.
Escova de dentes e pasta, escova de cabelo,  absorventes, perfume, baton e esmalte.
Bolsas
Mochilas
Camisetas
Casacos
Calças de moleton e legs
Cobertores
Brincos, pulseiras, lenços ou qualquer tipo de enfeite.
Toucas, meias e luvas.
Alimentos não perecíveis e que não precisem de preparo.
Etc…

 A distribuição para o Natal será realizada no período de 17 à 22 de dezembro em vários pontos da cidade.
Vamos contar uns com os outros, unindo forças. A resistência em acreditar que podemos ter uma sociedade melhor, pode e deve ser afrouxada. Soluções partem também de pequenos movimentos. Ao invés de reclamar vamos agir !

Muito obrigada à todos!



sábado, 21 de novembro de 2015

DIÁLOGOS - SAMIRA E DEISE

         
   Uma ilha de gente e barracas. Um canteiro sem flores divide as avenidas. Correm os carros nas duas direções. Uma plantação de homens. Posso ver duas mulheres dentro das casas de plástico. A guerra estende-se em diferentes bairros. Não há prédios e a falta de ar tem cheiro de crack. É só atravessar a rua e cair no outro lado do mundo. A mente rápida fica acuada, mapea  a possibilidade de erro. Um território de drogas, mas não de brigas.
            - São vagabundos que não querem trabalhar. Não vá lá, nunca se sabe o que pode acontecer, alerta o vendedor de caldo de cana
            Uma menina de vinte e três anos, grávida de cinco meses, Samira também não atravessou. Estava do lado de cá procurando por comida, nos encontramos. Um encontro de fome e crack, poucas palavras. - Quero sair das drogas, preciso de ajuda. Uso a droga e depois durmo, é isso que eu faço. Já roubei, já fui presa, foi lá que parei de usar. A droga leva a tudo: a falência, a morte. Tem dois caminhos: o caixão e o cemitério. Saí de casa tem treze anos. Tô com fome. Ela me espera, escreve no caderno enquanto ando até a esquina, o dono do restaurante doa cinco marmitex por dia. Ela perdeu a vez. Compro um prato de comida, dois. Procuro um abrigo para mulheres, perto dali um lugar que aceita somente homens. Oitenta e cinco leitos e banho. Saem durante o dia para trabalhar e voltam para dormir. Com o dinheiro que fazem, oitenta a cem reais por dia, compram drogas e bebida. Cachaça e crack são os escolhidos. - Oitenta e cinco por cento deles é soro positivo, por isso não há possibildade de deixar as ruas, o educador afirma. Só continuam vivendo, esperando. Pra eles tanto faz. Tem um lugar igual a esse que é para mulheres, mas é longe daqui. Pego o endereço. Na rua da volta, Deise: vinte e nove anos, três filhos, lágrimas nos olhos e o crack nas mãos.  A vida e a desgraça tornam-se mercadoria barata.
            - Você não precisa de dinheiro pra fumar, mais fácil eles te darem uma pedra que um prato de comida. Você não vê que não fico lá com  eles, fico aqui no meu canto. Hoje levaram meu sapato. Tô descalça. Eles não são perigosos, isso é coisa que inventam. As pessoas gostam de viver com medo. Eles se drogam e depois dormem. Quero sair da rua, quero sair das drogas, sei que isso tá me matando e eu não quero morrer. Amanhã na esquina fica uma Kombi parada com a assistente social; é só ir até lá.

                                             
  

NO REINO DA IMPOTÊNCIA






Av. Gastão Vidigal/ R.Potsdam/ R.Heliópolis/R.Teerã/ R. Aperca/ R.Avelino Chaves/ R. Baumann

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

EM UM ASSOPRÃO - DUAS CASAS


      Somos bocas gritando dentro de um mesmo oceano. Somente os peixes respiram em águas profundas, e mesmo assim precisam regressar a superfície para poder proteger seus órgãos vitais. 


        Piso no árido dos desafetos,  caminho por entre os corpos que se movem no chão. Não há trincheiras, o inimigo pede por socorro quarteirão em quarteirão. Uma guerra sem tiros. A fumaça branca que sai dos bueiros não oferece riscos aos seres humanos, mata apenas  animais de sangue frio que passeiam pelo chão da casa. Sem cômodos, cantos, nem portas a serem fechadas, os casulos pretos, barracas de nylon, caixotes de papelão e colchões, não oferecem perigo. Nessas casas sem parede o que sobra são os corpos. Não há gavetas, armários, coisas. Não têm cozinha, roupas, banheiro, livros. O estômago prensa os outros órgãos. Não têm pão. Tenta se esquecer da fome com a água da saliva. A língua seca lixa o céu da boca. Vive-se de goles, pingos, restos e esquinas. Encurralados nos vãos abertos, esfriam as costas no cimento enquanto adormecem olhando para o céu. Noites que duram nos dias.
     A tensão range no asfalto e no carpete da sala. O barulho dos passos não é o mesmo. Onde há portas é melhor trancá-las. Os corpos querem sair por elas e não mais voltar. O mundo é mesmo assim. Olhos mágicos não autorizam qualquer tipo de serviço, a campanhia avisa que tem alguém atrás da porta. O tempo acabou no relógio e é difícil entrar. Os seres em circulação quando esbarram-se, confundem-se. A casa os protege, mas é preciso ir. Há móveis na sala: lisas plataformas que apoiam coisas. Não há rugosidade aparente, nem no pensamento. Tudo se assemelha, e o medo deixa rastros. Os entes adultos engatinham para os cantos,  choram e se esquecem lá. 
     O cachorro que late vigia o lado de fora da casa, acolhe o lado de dentro da rua. O cachorro lambe, mas pode transmitir raiva. Sacrifica-se o amor.
   Os rostos dos mais educados ficam vermelhos quando o sangue perde o caminho do meio e se esparrama rompendo barragens. O grito é uma espécie de furo por onde o ar escapa. Profundo esvaziamento. Há famílias olhando pelos buracos de fechadura, os vizinhos. Empresta-se uma xícara de açúcar, é preciso sobreviver nos momentos de suicídio.
    As casas da rua continuam caminhando mesmo que não haja caminho. O rosto da rua não cora, a raiva é vertical. Vestem-se os seres do abandono. Os de dentro e os de fora.

     Os moradores de rua não choram?




Casa (do latim casa) é, no seu sentido mais comum, um conjunto de paredes construídas pelo ser humano cuja a função é construir um espaço de moradia para um indivíduo ou conjunto de indivíduos. De tal forma que eles estejam protegidos dos fenômenos naturis exteriores(como a precipitação, o vento, o calor e frio, entre outros), além de servir de refúgio contra ataques de terceiros.'


            

CASA