quinta-feira, 22 de outubro de 2015

INICIADOS




     Joana sai do chão. Senta na cadeira, pede um café, um panini, um chocolate e uma água. Fuma seu cigarro tranquilamente, dá uma risada, usa das palavras que existem soltas por aí. Olha os que andam, os que sentam, comenta. Paga a conta, anda até o carro, buzina, reclama da vida, chora. Tem uma família, um emprego um casal de filhos. Joana, Maria, Antônia grita dentro de sua casa gritos concêntricos. Estafa-se. Diferencia-se dos animais, não late. Reclama mais uma vez. Sempre atenta às bifurcações.
     Senta-se em uma cadeira confortável, dobra os joelhos, apoia os cotovelos, a cabeça nas mãos. Anda até o chuveiro. Deixa a água correr no seu corpo, ouve a música que toca, passa o sabonete. Um creme amacia a pele. Lê um livro. Dá um gole na água. Deita-se na cama.
     Penteia os cabelos que não são brancos. Transita onde é só afastamento. O mundo tornou-se conhecido.Todos os esconderijos habitam o próprio corpo. O coração bate, mas não deixa testemunho, é azul e escorregadio. Não há margens, os outros encarregam-se de juntar os fatos. As ondas batem frescas na memória, espumam na boca e salgam os olhos. Uma mulher sentada na praia com o filhinho no colo, uma pá e um baldinho. Gotas de areia sobem em castelos. As ondas batem e as coisas se desmancham. Os dedos quando ficam muito tempo na água enrugam. As pessoas quando ficam muito tempo na vida também.

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