terça-feira, 29 de setembro de 2015

VERSÃO DE UM ANJO CAÍDO

O QUE NÃO FOI DITO


   Sou uma mulher, senhora. Não  tenho filhos nem  família. Já andei praças, ruas,  descaminhos, não fiz feliz minha agonia. Sou uma mulher,  senhora. Vivo na rua procurando sombra, bancos para alojar o meu corpo fragmentado, desossado. Fizeram dele passagem e não soube mais onde me encontrar. Tenho cinco filhos entre mulheres e homens. Das mulheres sinto mais pena, espalharam-se por aí, como pólvora de revólver. Quem atirou não fui eu. Já tive alguns homens na vida e aprendi que a palavra não vale o peso da vontade. As minhas perderam a força muito antes de eu perder os caminhos. Hoje meu tempo é de subtração. Arrumei um companheiro, seu nome é Satánas,  Ele é meu mestre, meu guia.  Mil frases todos os dias. Fico em vigília, já não durmo. A vida não se escolhe, a senhora sabe disso. Não tenho outro destino. Satánas é minha benção. Morei em tantos lugares, desde aquele dia não encontrei mais parada.

  Foi numa noite de pouca lua, ele se dividiu em quatro, disse que era castigo. Os olhos avermelhados, eu perdi os sentidos. Estourou os meus tímpanos, rompeu  minhas  membranas. Senhora, não olhe pra mim desse jeito, não duvide da minha palavra, ela perdeu a força, mas falo a verdade. Não duvide. Tenho anos grudados na pele e partes que sangram no corpo. Carrego coisas, cobertores, casas e sacolas, não interessa o que levo dentro. Já não sinto frio nem medo. Também não preciso de ajuda. Pra mim não existe futuro. Não tente saber nem criar minha história, sou isso que a senhora vê.  Sou essa porção vestida,  que não encontra sossego. Fico com o peso da minha carne, os ossos  já não valem muito, doem por todos os lados.  A senhora  já pode ir e procure não voltar.

Um bastão de madeira nas mãos
Quatro sacolas de plástico no chão
Cobertores e coisas dentro das sacolas
Uma touca de lã vermelha na cabeça
Um cachecol grená enrolado no pescoço
Um par de meia verdes nos pés
Sandálias havaianas
Um casaco impermeável preto aberto
Uma calça de moleton cinza
Um casaco de abotoar fechado: cinza chumbo, botões de plástico
Um corpo pequeno
1,55m
Um par de óculos com armação de acrílico transparente
Cabelos  brancos - curtos
Boca com batom rosa
Arcada dentária faltando cinco dentes da frente
Vale do Anhangabaú.

Um dia frio.





CONFESSIONÁRIO










Vale do Anhangabaú

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

HISTÓRIAS DE NINAR QUE NÃO FAZEM DORMIR

História contada

Nana neném que aqui é escurinho
Mamãe é seu ninho, ninguém vai te pegar.
Dorme meu bem, aqui no quentinho não tem temporal,
não tem frio, nem medo, não tem fome (...)





KARINE

 DENTRO - A BARRIGA E UM OUTRO CORPO


Parque Mário Covas


 
      Al.Santos (ano de 2012)                                 Parque Mário Covas (ano de 2015)




NO REINO DOS QUARTEIRÕES IMPERFEITOS

            
  LEGENDA  
    

    Era uma vez em dois mil e doze, era uma outra vez em dois mil e quinze. A primeira vez dezoito anos, a segunda, vinte e dois. Três anos, duas  barrigas. Karine era quase a mesma, olhos voltados para baixo, sorriso guardado escondendo um pouco mais de tristeza e a falta do dente. Uma vez menina, uma outra, menina grande. Na primeira esquina, Alameda Santos, camiseta listada de azul, gorro, e a calça molhada de urina. Há sete meses carregava o bebê na barriga. 
    - E quando ele estiver fora?
    Três anos depois, uma barraca de plástico preto fixada na calçada da Alameda Ministro Rocha Azevedo, outra barriga. Banheiro usava o da praça, as roupas presas na grade por cima da barraca. O companheiro, sentado num banco, olhava pra mim pronto pra agir, caso necessário. 
   - Esse é meu primeiro filho, é dele ali. Ontem o rapa passou e tirou tudo que é nosso, tão limpando a cidade pro Natal. Só deixou a roupa do corpo, agora a gente tem que ir buscar tudo, e é longe. Eu não vou. Fiz até o primeiro ano, tenho seis irmãos, minha mãe arrumou um namorado e largou meu pai, aí ele não aguentou. Ele morreu e eu fui embora, não quero mais ver ela. Ela tá por aí, acho que na casa da minha irmã, eu não vou lá. Minha mãe foi uma filha da puta com o meu pai. O pessoal passa na rua e joga coisa na gente, outro dia eu tava ali, na frente daquele restaurante, e quase que me acertaram. Eu fico sempre por aqui, pode vim outro dia. O rapa tira, mas a gente volta. Já usei muita droga, de todo o tipo, agora parei. O crack é a pior delas. 
    -  E o seu filho, Karine? 
    -  Eu sei, vou me cuidar.
    -  E quando ele estiver fora?







Parque Mário Covas - Al. Ministro R. Azevedo




terça-feira, 22 de setembro de 2015

PARÁGRAFOS DE ESPERA



Papos de várias faces, de poucas palavras. O som vibrando no texto. O desejo do reencontro. Tuva, Elizabeth, Graça e Silvia. Processo de ebulição desfeito pela tampa. Volto para casa ou dou voltas pelo mundo vedando buracos com quatro grãos de areia.



    Descendo a rua Antônia de Queirós, Tuva manobrava seu carrinho de feira. Não levava compras, não levava nada. De óculos escuros no topo da cabeça, pulseiras nos braços cheios de pintas, fios desbotados de echarpe enrolados no pescoço, batom desenhando uma segunda boca, unhas com resto do esmalte e  imagens. Charmosa, cheirava ao que não era novo. O blush laranja mal espalhado riscava pelas bochechas a vida em riachos profundos e secos. Os olhos de Tuva eram azuis mergulhados em água que brilhava como um mapa mundi, girando e mostrando o mundo inteiro numa fração de minuto. Uma andarilha colorida entre vitrines e bares no baixo Augusta. Ia num passo misturado, cheio de história, mas com pouca convicção. Já foi governanta, babá e mais uma porção de coisas que não se lembrava bem. Que foi Miss Silvio Santos, causou-nos espanto e alegria! Balançou as pulseiras, estremeceu o olhar. Lágrimas azuis ficaram penduradas nos cílios. Não sei se nos meus ou nos dela. Trocou de assunto como troca de esquina e contou que teve um gato quando morava em Santos. Um gato que não miava, mas que pagava as contas do restaurante: - Quando se tem um gato que paga as contas, não dá certo. Ele acha que é seu dono. Ficamos mais uma vez com o susto nas mãos. As lembranças passavam rápido e ela também tinha pressa. Era hora de descer  as escadarias para voltar para casa. Não fizemos fotos, ela queria "se ajeitar", me disse, "se arrumar". - Quem sabe amanhã, perto da rampa do MASP, na parte da manhã sempre fico lá, faz bastante tempo que moro lá. Você pode? - Posso sim, Tuva.  
    Gostaria de estender-me, passear com ela empurrando carrinhos de feira vazios. Olhar as vitrines do baixo Augusta, sentar e tomar um café.  Passei por lá tantas vezes. Um dia um amigo tirou algumas fotos dela e me avisou onde ela estava. Corri pra lá, andei pelas imediações. Talvez, outra cor de cabelo, óculos, pulseiras… Tuva, não deixou rastros.



    Elizabeth é esguia. É da paz. É de boina verde e saia longa. É sem dente na boca. Tem um restinho de rosa nos lábios. Quer ser rica, me pediu uma mala cheia de dinheiro pra sair pelo mundo viajando ou pra comprar uma casa, não sabe bem. Roupas elas também querem. Elizabeth tem fama de roubar dos que andam pela rua, dos donos das lojas que deixam coisas pra fora: vasinhos de flor, cartazes... Rouba, mas não foge. É de poucas palavras e ações rápidas. Tirou o gravador da minha mão, fomos ágeis, as duas. - Não posso te dar, trabalho com ele. Queria também meu celular. Peguei de volta. Gostou da idéia de contar suas histórias, mas não aquele dia. Posou para as fotos, fez um desenho no caderno. Nos dedos um sinal de paz e amor. - A mala de dinheiro fica difícil de trazer. Te trago as roupas, pode ser? Um sorriso e um aperto de mãos. Outro dia nos vemos. -Tô sempre por aqui, ela me fala. O moço da barraquinha de filmes pirata me avisa: - Cuidado com ela moça, é ladrona. Todo mundo sabe.



    Ainda não era noite, mas o céu já estava escuro. Também não era inverno, mas já fazia frio. Ela estava de costas para mim, parada na esquina revirando sacos de lixo. Caminhar até ela foi longo. Um mundo de pensamentos passou por mim. Graça, uma mulher calma, que procura por papelão nos lixos da cidade. - Dá pra fazer dez reais por dia, me diz com certo contentamento. Morava ali perto do Jabaquara. Seus banhos tomados em abrigos, algumas vezes, só algumas. Dormir também só de vez em quando. - Ir muito no abrigo só atrapalha pra arrumar emprego. Tem carteira assinada e alguns filhos espalhados por aí, mas não fala deles. Já foi auxiliar de departamento, copeira e empregada doméstica. Tiramos apenas uma foto. Graça é muito bonita. Estava anoitecendo, combinamos de nos ver outro dia, naquele mesmo horário ou mais cedo no Ibirapuera, portão 5.
    Passei por lá várias segundas, ninguém soube falar dela, arrisquei outros dias, ninguém nunca a viu. O lixo transbordando de papelão. Quantos reais poderia ter feito? - Graça? um grito que não vai ser ouvido. No portão 5, também não esteve. O parque tem dez portões e a semana sete dias.



    Silvia é guardadora de carros.  Sua casa é de rodas e lona azul. Tem garrafões de plástico e papelão pendurados por todos os lados, o cachorro Duque, um varal feito na árvore, cadeiras pra sentar na calçada e a madrinha. O marido está dormindo. Ela lida com a vida de um jeito prático, logo puxa uma cadeira pra eu sentar e chama o Duque pra nos fazer companhia. Usa anéis, pulseiras, camiseta florida de alcinha e barriga de fora, Duque de coleira de pérolas. Seu marido acorda dentro da barraca e grita, eles discutem. Eu levanto. Ele sai, pergunta se sou escritora, se quero conversar com ele. Explico que esse projeto é só com mulheres, quem sabe uma próxima vez... Tudo tem um ritmo acelerado. Para cada frase um movimento. Ela pendura suas calcinhas na árvore, enquanto conversamos mais um pouco. Silvia passa o batom nos lábios, vamos tirar as fotos. - Tira umas fotos aí do meu barraco, ela diz. O marido já tinha entrado. Uma senhora aparece, não sei bem de onde : - Benção madrinha!  Silvia desenha uma casa no caderno, e deixa um beijo com batom. A madrinha fala que ela vai conseguir. Uma foto da madrinha e ela desaparece. Do outro lado da rua, três caras me analisando. Silvia olha para o meu celular e depois pra mim. Guardo o celular no bolso. - Já deixei você tirar foto do meu barraco. Volta outro dia. Agora vai! Dou meu livro pra ela. Agradeço e nos desejamos boa sorte. Acelero o passo, ela encara os três que atravessam a rua. Dessa vez eu estava de carro. Tudo muito rápido. Sabemos que não é para eu voltar.


   
    Quatro damas, quatro flores no asfalto. Aos que vivem, a certeza do agora.


ELISABETH



R. Augusta





GRAÇA




R. Coronel Oscar Porto




SILVIA





R. Conselheiro Crispiniano



A Madrinha



Duque e a Lona Azul


TUVA


R. Antônia de Queirós


* Fotos do fotógrafo Fausto Roim

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

EVA

Dona Eva não é coisa jogada na rua misturada com pichação. Não é a sua mãe, mas é mãe. Ela tem um filho, perdeu dois, vai ser avó. Já teve um barraco, depois teve fogo. Suas histórias reeducam nossas certezas, afrouxam nossas cascas. Esse é um convite de escuta, e que a mente ouça pelo coração. Nós escolhemos os valores da sociedade em que queremos viver.


O RETRATO DE EVA






R. Fradique Coutinho

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

FILHOS DE VÁRIAS VIAGENS - Um Conto

  Dentro de carroças, barracas, carrinhos de super mercado, vestidos de gás carbônico, pelo centro da cidade, margeando o parque, esfriando as costas no cimento, pendurados pelos braços, vão os filhos. Nenhum pedido na boca, não tem sorriso no rosto, sem chocalho ou ursinho, fralda, papinha, mamadeira, livrinhos. Tem só caminho. Filhos de várias viagens, de barrigas vazias, de sete meses que vingaram. Vão misturados, mesmo útero, mesmas rodinhas. Vão sem barco nem mar, com outro tipo de tiro no peito, lá vão os sobreviventes de outras guerras.
No centro da cidade, na porta das Casas Bahia, na Avenida República do Líbano, na Alameda Santos, na Conselheiro Crispiniano, na Matias Aires, em frente à Drogaria São Paulo, na Rua Simas Pimenta, pedindo esmola, dois no colo, dois do lado, um em pé, vendendo mercadoria:
- Compra um pacote de fralda, uma lata de leite Ninho, dá uma moeda, um trocado ?
- Dá um sanduiche, um saco de arroz, um cigarro? Passa uma marmita no cartão, moça?
- Não fumo. Mas, como sim, moço! Já usei fralda, moça, meu filho também, o amigo dele, o vizinho, um pacote ajuda? Uma lata de leite Ninho? Quantos são os seus filhos? Um sanduíche? Entra aqui na padaria. Olhares escuros. Narizes fungando, gente tossindo. Medo de epidemia de gente comendo e se encostando. Fedendo. O dono olha, o do lado, o outro levanta, um pede pra que saia. Melhor um trocado? Um par de meias, toucas, uma passagem pra outro bairro? Perto de mim, não. Quem é essa gente que senta? E a que levanta?  Uma cama na minha casa, um puxadinho, uma escola, uma educação, uma saúde? Um copo de água? Só um cobertor no inverno.
- Compra uma bala, um chiclé, um pano de prato, moça? Olha minha mágica, meu lenço saindo das mãos, meu dedão falso, minhas três bolinhas caindo no chão. Vim de banho tomado, cabelo engomado; essa roupa ganhei outro dia na Rua da Consolação, o sapato é meio furado, encho ele de jornal e depois fico olhando na sola do pé as letras grudadas. Eu já sei lê. Sei brinca com o fogo, jogo as chamas para cima, equilibro o medo nas mãos. O barraco da tia pegou fogo, nois morava lá. Não tinha pra onde ir, viemo pará na rua. Nós dorme cada dia num lugar. Dizem que foi o dono do terreno que queimou, queria fazer uma pizzaria. Todo mundo ficou sem casa. Já comi um pedação de pizza, era bem bom e tava quentinha, tinha queijo e tomate e ovo e presunto também, e as bolinhas verde era azeitona, só que não era pra engoli o caroço, a dona que falou. Ganhei um copo de coca-cola, ela falou pra escova os dentes, deu dinheiro pra compra a escova e a pasta, mas minha mãe pegou. Minha mãe tá ali do lado, tô vendendo balinha, quer compra? Minha mãe tá ali, ó! Do lado de lá do rio, do lado daquele homem, naquela outra calçada com aquele cigarrinho na boca, aquela cara socada, com cabelo puxado, deitada ali naquela grama com a garrafa do lado, tomando banho na poça, xingando aquele outro moço. Olha minha mãe ali, ó, saindo do emprego novo, mandada pra fora, indo pra outra cidade, buscando oportunidade. Olha minha mãe ali, no ônibus que não vai voltar. Vou ficar com a minha vô, que cuida de oito filhos, os da vizinha, os da outra filha e dos meus três irmãos. Minha vó não mudou de cidade, a outro vó foi embora e não voltou. Ninguém mais sabe dela, o nome era Maria, das Dores, da Penha, da Conceição, Aparecida, do Rosário. Acho que das Graças. 
- Eu tô indo encontra minha mãe quinta-feira, a Suelen falou, dia oito do mês que vem, tem quatro anos que não vejo ela, eu tenho doze, vou ajuda ela a cata  latinha, a revirar o lixo, a vender papelão. Meu pai? Quase que conheci, mas morreu de batida da polícia ou de caminhão. Ele gostava da minha mãe. Aí, ela teve que ir embora arrumar trabalho em outro lugar, acontece que tenho da parte dele mais cinco irmão, tá tudo por aí espalhado, já que a outra vó não voltou. Nunca mais deu notícia, acham que ela morreu. Tinha problema de saúde, não conseguia marca o exame e o tempo nem esperou. A filha da minha tia foi trabalha em casa de famíia, disseram que o patrão quis namora ela, a dona mandou ela embora. Ela não conseguiu mais emprego, tava morando na rua, porque os moço pego ela e ela pego no crack, nunca mais largou. A minha mãe já tá boa, mas ainda não tá trabalhando, falta os documento e o meu também não tá pronto por causa do meu vô, sabem o nome dele, mas precisam não sei do que mais, já já eu vou conseguir, a assistente me falou. Tenho cinco, dois, quatorze anos, diz que eu roubei comida lá no super mercado, eu não sabia que não podia, tava morrendo de fome, minha mãe não voltou. Deixou os dois menor comigo dentro daquele carrinho, o de quatro tava chorando, ele tava com fome, eu não sei pedi esmola, achei que ninguém ia vê, foi só dois pacote de bolocha, traquinas de chocolate, nem deu pra comer nenhuma, quando o guarda me pegou, me jogaram no camburão e me levaram pra FEBEM, não sei mais dos meus irmão. Lá aprendi da bandidagem, fome eu não passo mais, um dia vou encontra minha irmã. Tenho certeza disso, vou fazê faculdade, estuda, nem precisa ser doutor. Vou ter minha família, não vou larga minha mulher que nem fez meu avô. Vou conhecer todo os meus filho, quero ter só três, duas meninas e um menino. Ele vai chama Denilson, elas: Daine e  Doriane. Tudo com a mesma letra que nem o nome da minha mãe, Diane.
- Posso ser cabelelera, gosto de cuidar dos outros, perto da outra casa que eu morava, a mulher tinha um salão, fazia mão, tingia o cabelo, punha implante, tudo que as mulher pedia. Hoje ela ficou rica, mudou de lá, tem casa,  até carro ela tem. É a maior bonita, estudo muito pra ser tudo isso.
- O que eu não quero nunca é fica que nem minha mãe, com meus filho cheio de padastro, que nem os meus batia em nós. Saia tudo gritando, minha mãe quebrava tudo que tinha na frente dela, um dia ela me acertou. Por isso que eu fiquei assim. Ia pega de raspão, mas não deu tempo de abaixa. Veio direto na minha cara, era uma garrafa de vidro, mas eu nem ligo mais. Enxergo do outro olho.
       O dia terminava e o vento frio levantava o cinza por trás dos passos. Era hora de ir. As rodas dos carros faziam mais barulho do que as dos carrinhos, as freadas eram bruscas. As ruas eram muitas, mas a casa tinha lugar certo, até o próximo dia, mês, esquina. Até que o "rapa" passe limpando tudo.

SEM MAR




Pça. Cedro Líbano




Al. Santos




Pça. Ramos de Azevedo




R. Santo Antônio