sexta-feira, 13 de novembro de 2015

EM UM ASSOPRÃO - DUAS CASAS


      Somos bocas gritando dentro de um mesmo oceano. Somente os peixes respiram em águas profundas, e mesmo assim precisam regressar a superfície para poder proteger seus órgãos vitais. 


        Piso no árido dos desafetos,  caminho por entre os corpos que se movem no chão. Não há trincheiras, o inimigo pede por socorro quarteirão em quarteirão. Uma guerra sem tiros. A fumaça branca que sai dos bueiros não oferece riscos aos seres humanos, mata apenas  animais de sangue frio que passeiam pelo chão da casa. Sem cômodos, cantos, nem portas a serem fechadas, os casulos pretos, barracas de nylon, caixotes de papelão e colchões, não oferecem perigo. Nessas casas sem parede o que sobra são os corpos. Não há gavetas, armários, coisas. Não têm cozinha, roupas, banheiro, livros. O estômago prensa os outros órgãos. Não têm pão. Tenta se esquecer da fome com a água da saliva. A língua seca lixa o céu da boca. Vive-se de goles, pingos, restos e esquinas. Encurralados nos vãos abertos, esfriam as costas no cimento enquanto adormecem olhando para o céu. Noites que duram nos dias.
     A tensão range no asfalto e no carpete da sala. O barulho dos passos não é o mesmo. Onde há portas é melhor trancá-las. Os corpos querem sair por elas e não mais voltar. O mundo é mesmo assim. Olhos mágicos não autorizam qualquer tipo de serviço, a campanhia avisa que tem alguém atrás da porta. O tempo acabou no relógio e é difícil entrar. Os seres em circulação quando esbarram-se, confundem-se. A casa os protege, mas é preciso ir. Há móveis na sala: lisas plataformas que apoiam coisas. Não há rugosidade aparente, nem no pensamento. Tudo se assemelha, e o medo deixa rastros. Os entes adultos engatinham para os cantos,  choram e se esquecem lá. 
     O cachorro que late vigia o lado de fora da casa, acolhe o lado de dentro da rua. O cachorro lambe, mas pode transmitir raiva. Sacrifica-se o amor.
   Os rostos dos mais educados ficam vermelhos quando o sangue perde o caminho do meio e se esparrama rompendo barragens. O grito é uma espécie de furo por onde o ar escapa. Profundo esvaziamento. Há famílias olhando pelos buracos de fechadura, os vizinhos. Empresta-se uma xícara de açúcar, é preciso sobreviver nos momentos de suicídio.
    As casas da rua continuam caminhando mesmo que não haja caminho. O rosto da rua não cora, a raiva é vertical. Vestem-se os seres do abandono. Os de dentro e os de fora.

     Os moradores de rua não choram?




Casa (do latim casa) é, no seu sentido mais comum, um conjunto de paredes construídas pelo ser humano cuja a função é construir um espaço de moradia para um indivíduo ou conjunto de indivíduos. De tal forma que eles estejam protegidos dos fenômenos naturis exteriores(como a precipitação, o vento, o calor e frio, entre outros), além de servir de refúgio contra ataques de terceiros.'


            

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